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Diário do Kilimanjaro #4: a conquista do cume e perguntas frequentes

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Nós conseguimos. Nós chegamos ao Uhuru Peak, o cume do Kilimanjaro, ponto mais alto do continente africano, a 5895 metros de altura, às 8:30 da manhã do dia 21/06, depois de 6 dias de expedição e uma noite inteira de avanço ao cume. Foi uma experiência inigualável, e várias vezes durante a expedição eu pensava “mas como vou conseguir escrever sobre isso e transmitir tudo que eu passei para os leitores do blog?”. Essa viagem ao Kilimanjaro não foi como qualquer outras das viagens que já fiz. Além dos lugares lindos que vi e do desafio físico e mental que superei, convivi com pessoas maravilhosas. Tanto meus companheiros de expedição que, como eu e meu marido, estavam lá com o mesmo objetivo que a gente, como também toda a equipe de apoio. Os carregadores, os guias, os cozinheiros, aqueles que fizeram possível a realização desse sonho. 

(foto acima, no destaque: o glaciar do Kilimanjaro, visto do cume)

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Todos os perrengues ficam muito pequenos quando você se dá conta que está acima das nuvens, e até consegue ver o horizonte redondo. Estar ali em cima é um privilégio imenso. A emoção é grande, visceral, e se faz presente com muitas lágrimas e soluços. 

Tenho recebido dezenas de perguntas sobre essa viagem. Acho que nenhum outro lugar sobre o qual escrevi gerou tanta curiosidade. Vou tentar responder algumas delas aqui, mas nos posts que virão darei informações mais práticas, incluindo higiene e saúde, equipamentos, e dia a dia (caminhadas, acampamentos, alimentação). Caso você tenha alguma pergunta específica, é só deixar um comentário aqui ou em alguma das fotos que postei no meu instagram pessoal (@helorighetto).

Nós dois com o Kilimanjaro ao fundo, durante a caminhada de aclimatação, no quarto dia de trekking

Mas vamos para as perguntas mais frequentes:

  1. É perigoso? Não. Apesar da expressão “escalada” essa subida não é técnica. Ou seja, não precisa de cordas ou de curso de montanhista. Você não vai cair de um precipício se escorregar ou tropeçar. Simplicando, a escalada do Kilimanjaro é um trekking morro acima. Em algumas partes é preciso subir em pedras, em outras a superfície é mais íngreme e um escorregão pode machucar ou gerar fratura. Mas basta prestar atenção nos seus passos e seguir as dicas dos guias.
  2. Você passou mal por causa da altitude? Não. Tive um tiquinho de dor de cabeça no segundo acampamento, na noite que dormimos a 3600 metros de altura, e o Martin também. mas foi muito pouco mesmo, nem precisamos tomar remédio. O chefe da nossa expedição aconselhou desde o começo que tomássemos meio comprimido de Diamox (125mg, Acetazolamide) duas vezes ao dia. Esse remédio é um diurético e ajuda na prevenção do mal de altitude, por isso o tomamos como um tratamento (começamos a tomar um dia antes de começar a expedição até um dia antes de subirmos ao cume) e não depois de passar mal. Nossa expedição também teve um dia de aclimatação (dormimos duas noites em um mesmo acampamento, de 4300 metros de altura) e fomos muito bem cuidados e supervisionados pelos nossos guias, que nos mostravam a maneira certa de respirar e lidar com eventuais sintomas. Eu tive perda de apetite e o sono prejudicado (sono leve, acordava toda hora), então precisei me policiar e me forçar a comer pequenas porções durante o dia. 
  3. Que rota você fez? Nós subimos pela rota Rongai, que sempre foi a que mais me atraía, por ser a única que sobe o Kili pelo lado norte e proporciona uma diversidade de flora diferente das demais. E como descemos pela rota Marangu (chamada de rota Coca Cola pois é a mais popular e a mais rápida – o que pode causar problemas de aclimatação), acabamos vendo a diversidade “do outro lado” na volta
  4. Quantos dias no total levou a expedição? Minha expedição levou 7 dias. 5 dias inteiros pra subir, mais metade do sexto dia até o cume. A ouyra metade do sexto dia e o sétimo dias foram de descida/retorno. Isso muda de expedição para expedição, depende da agência que você vai. Quanto mais dias pra subir, melhor, pois mais chances você tem de se aclimatar e conseguir chegar
  5. Você fez algum treinamento físico especial? Eu pratico corrida há vários anos e mantive meu treinamento. Participei de uma meia maratona um mês antes da viagem, então fiz treinos pesados nos primeiros meses de 2017. Não há dúvida de que é preciso estar acostumado com exercício físico para encarar uma viagem dessas: não vai adiantar nada treinar apenas um ou dois meses antes. Mas a real é que o exercício não garante imunidade ao mal de altitude. Isso pode atingir o mais sarado dos atletas e não atingir a pessoa mais despreparada. É uma caixinha de surpresas. 
  6. Por que vocês subiram pro cume durante a noite? O avanço pro cume é o ápice da expedição. O campo base fica a 4700m de altura e o cume a 5895 metros. Ou seja, são mais de 1100 metros de uma vez só. É a parte mais longa e mais difícil, e todos os dias de trekking até agora vão parecer fichinha depois (isso porque durante o trekking você vai pensar “nossa, não pode ser muito pior/mais longo que isso”). E claro, você terá, a cada passo, menos oxigênio. Fica mais e mais difícil. A subida ao cume é feita a noite não apenas para garantir que você verá o nascer do sol lá de cima (a coisa mais linda que já vi na vida) mas também pra garantir que você vai descer ainda com muita luz (a descida não é nada fácil e há um pedaço de pedras grandes).
  7. Como era o clima? Nós tivemos muita sorte e não pegamos nenhum dia de chuva. Mas a variação de temperatura é drástica. Durante o dia, quando bate o sol, fica muito quente (e dá-lhe protetor solar, tem que tomar MUITO cuidado). Mas volta e meia uma nuvem passa e bate um friozinho. A noite também fica gelado, de usar gorro e luva. Teve gente que usou bermuda nos dois primeiros dias de caminhada. Mas sempre, sempre, carregue o anorak (jaqueta corta vento impermeável), e o gorro na mochila. Até mesmo quando chegamos lá no alto, na crista da cratera, nós começamos a tirar camadas, pois o sol já estava batendo. 
  8. Onde vocês dormiram? Em barracas. Alguns pontos de camping, principalmente na rota Marangu (que foi a que usamos pra descer) tem “huts”, ou seja, uns chalés de madeira com camas. Eu honestamente não sei como faz pra conseguir um lugar nesses huts, já que desde o começo eu sabia que nossa expedição ia usar barracas. Cada barraca acomoda duas pessoas. Também tínhamos barraca de refeitório e de banheiro, mas vou falar da estrutura do acampamento em um post específico. 
  9. Você ficou sem tomar banho todo esse tempo? Sim. O “banho” era com lencinhos umedecidos. Também tínhamos uma bacia com água quente pra lavar o rosto todos os dias pelas manhã. Um dia pudemos tomar banho de caneca. Tinha água pra lavar as mãos e escovar os dentes (outra coisa que depende muito da agência/operadora que organiza sua expedição. A infraestrutura dos meus acampamentos era excelente. Como já comentei antes, fui para o Kilimanjaro com a Morgado Expedições, que usa os serviços da Everlasting Tanzania. Recomendo muito!)
  10. Você tomou algo para Malária? Sim, eu tomei um remédio preventivo que meu médico receitou. Mas muita gente da minha expedição não tomou. Isso porque não há mosquito da Malária dentro do Parque Nacional do Kilimanjaro. A partir do momento que você entra no parque, você não precisa se preocupar (e claro, na altitude não tem mosquito nenhum!). Mas como nós ficamos um dia inteiro na cidade de Arusha antes de começar a escalada, acabamos tomando. Mas é só se cuidar, passar bastante repelente. 

O Kilimanjaro é a coisa mais incrível que já fiz na vida. Escrever sobre essa experiência será um desafio e tanto, mas espero que eu consiga mostrar pra vocês como valeu a pena! Aguardem os próximos posts (enquanto isso, vocês podem ler os posts que fiz antes da viagem ou verem as fotos que já postei no Instagram!).

O acampamento a 4300 metros de altura, onde dormimos duas noites para aclimatação, aos pés do Monte Mawenzi

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Heloisa Righettohttp://www.aprendizdeviajante.com
Heloisa Righetto mora em Londres desde 2008 e é autora do Guia de Londres - Para Iniciantes e Iniciados. Escreve o blog www.helorighetto.com desde 2003. Siga @helorighetto no Twitter e no Instagram @helorighetto e no Google Plus + Heloisa Righetto

14 COMENTÁRIOS

  1. Ah Helô, tô mega curiosa para saber mais, principalmente das emoções. Deve ser tão difícil descrever, mas vou ficar aqui grudada acompanhando! Me deu muita vontade de sair fazendo todos as viagens de aventura agora! Super orgulho de vocês que conseguiram chegar lá no topo!

  2. Você já está conseguindo mostrar que valeu a pena, Helô. Dá pra sentir a emoção nas fotos, nos textos, na carinha de vocês. <3
    Parabéns, parabéns, parabéns.
    E sim, eu vou comentar em todos os posts porque tô babando. haha
    :*

  3. Oi Helo!!!

    Adorei acompanhar o antes, torci muito pra vocês terem sorte com o clima e dar tudo certo na subida… Já ouvi muitos podcasts com o Manoel Morgado que é um baita exemplo e referencia nesse meio do montanhismo… Se um dia eu fizer esse trekking certamente vai ser com a empresa dele tb!! Esperando ansiosamente por todos os posts!!

    Beijão!

  4. Eu estou louca pra te encontrar na versão pós-Kilimanjaro.
    Meus olhos ficaram “suados” aqui só com o relato dos primeiros dois parágrafos.
    Obrigada por me inspirar todo dia a ser corajosa e a tentar coisas novas e a superar limites – físicos e mentais.
    Você é demais! Ansiosa pra ler os próximos posts!
    Beijo!

  5. Heloisa, so de ler estas perguntas e respotas ja fiquei com vontade de fazer a viagem. E e’ algo com que nunca sequer tinha sonhado. So de imaginar como o nascer do sol, visto do cume, deve ser maravilhoso… Vai para a minha lista de desejos 😉 bjs

  6. Heloísa, só de ler estas perguntas e respostas já fiquei com vontade de fazer a viagem. E é algo com que nunca sequer tinha sonhado. Só de imaginar como o nascer do sol, visto do cume, deve ser maravilhoso… Vai já para a minha lista de desejos! bjs

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